terça-feira, junho 6


Pão e Circo


Portugal joga no campeonato do futebol global. A prestação real dos portugueses dá-nos motivos para sonhar alto? A resposta parece óbvia. Tão óbvia que é isso que justifica o estado de espírito dos portugueses, ...

Tão óbvia que é isso que justifica o estado de espírito dos portugueses, espelhado (e exagerado) nos hiperbólicos títulos de jornais, que nos fazem olhar de um patamar desnivelado para os países concorrentes, marcando a nossa ambição nessa disputa. Porque tudo fica revelado quando estamos nesse espaço transparente que é o jogo de futebol: ganhar ou perder é o reflexo do nosso valor. E nós sabemos o que valemos e o resultado que nos espera.
Que fique claro: se é verdade que o País está dividido entre, de um lado, a imensa e generosa maioria que apoia incondicionalmente a importância da selecção nacional e, do outro, os proscritos que andam para aí a criticar a euforia com o Mundial, não tenha dúvidas: estou com os críticos. Com os críticos à euforia anestésica, que as empresas patrocinam, a que os políticos se colam e que merecem psicadélicas coberturas da comunicação social, que elevam o futebol à categoria de opiáceo que verdadeiramente nem sequer será. Há assim tanta audiência para vibrar em directo com a depilação do peito de Figo?
Este não é um texto, perceba-se, sobre audiências ou a não convocatória de Quaresma. Verei os jogos da Selecção e torcerei na final. Mas ganhar o Mundial não resolve nada. Será uma festa, uma bebedeira gregária, que no dia seguinte degenera em ressaca colectiva. Pão e circo. O resto não muda. E não creio que faça bem ao País proteger os galácticos (!) da crítica e dizer que ganhar será um tónico para a auto-estima nacional, que a economia melhorará, as pessoas serão mais produtivas e felizes. Patranhas.

Patranhas que criam o estado de espírito surrealista de apoio vertiginoso à Selecção Nacional, que muitos jornalistas defendem à náusea, porque não se pode dizer mal, isso é anti-nacionalismo, temos é de apoiar, puxar pela moral dos jogadores, dar as boas notícias (que vendem...), desvalorizar as más e ser claramente parcial porque isso é ser por Portugal. Não é. Ser por Portugal não é ser complacente, é ser exigente.
Quando Jack Welch, num discreto debate com um punhado de gestores de topo portugueses, se mostrou há dias espantado com o nosso clima de pessimismo, um presidente de uma das maiores empresas retorquiu: que não se preocupasse, agora ganhávamos o Mundial e a coisa resolvia-se. Welch não aceitou a brincadeira e respondeu que sim, que Portugal tem essa opção, a opção do futebol, dos restaurantes, das praias, do sol fantástico e esquecer tudo o resto. Mas então, concluiu, escusavam de estar ali numa reunião de trabalho.

Repare:
Portugal joga no campeonato da economia global. A prestação real dos portugueses dá-nos motivos para sonhar alto? A resposta parece óbvia. Tão óbvia que é isso que justifica o estado de espírito dos portugueses, espelhado (e exagerado) nos hiperbólicos títulos de jornais, que nos fazem olhar de um patamar desnivelado para os países concorrentes, marcando a nossa ambição nessa disputa. Porque tudo fica revelado quando estamos nesse espaço transparente que é o jogo da economia: ganhar ou perder é o reflexo do nosso valor. E nós sabemos o que valemos e o resultado que nos espera.

Do primeiro para o último parágrafo, apenas uma palavra foi substituída. O País é o mesmo. As pessoas são as mesmas.
A diferença é o sonho. E isso justifica tudo. Para o bem e para o mal. Vamos ganhar?

Pedro S. Guerreiro
In "Jornal de Negócios"

11 comentários:

Santos R. Queiroz disse...

Muito bem! Ainda bem que não sou o único dos críticos e que há mais quem perceba que não nos devemos afastar dos verdadeiros objectivos da Pátria para cedermos a delírios passageiros.

O Império Lusitano só pode merecer as minhas sinceras felicitações pela (re)publicação deste artigo.

Mestre de Aviz disse...

Muito obrigado. Este artigo exprime a minha opinião sobre este assunto, por isso ao lê-lo decidi publicá-lo.

Cumprimentos

Ze do Telhado disse...

Brilhante o texto.

Anónimo disse...

É por voces terem posts destes que eu vos respeito e leio o site. São de facto os Nacionalistas mais moderados que por aí andam. Talvez tenham alguma hipotese. Mesmo assim acho demasiado perigoso terem...pelo menos para ja.
Cumprimentos

Mestre de Aviz disse...

Muito obrigado pelos seus comentário, mas qual seria o perigo de termos algumas hipóteses? Nós não defendemos nada "perigoso" nem ofensivo, nem que levante opressões...

Anónimo disse...

Mas sao perigosas mtas das pessoas q defendem o q vcs defendem

Mestre de Aviz disse...

Quanto a isso concordo, mas o verdadeiro nacionalismo, a verdadeira essência nacionalista presente em praticamente todos os portugueses, é a chama que nós defendemos, com um modelo de Estado adequado, que já tivemos oportunidade de mostrar.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Continuem, mt bem!

Anónimo disse...

Pessoas perigosas existem em todos os movimentos.Senão vejamos:Staline,Mao,Fidel,Saddam,Arafat...A história não nos deixa esquecer todos os seus crimes!Contudo para a esquerda apenas existe Hitler e os nazis.È redutor,não?

Anónimo disse...

Não é redutor, pelo simples facto de Hitler ter sido o pior criminoso político que a história mundial alguma vez conheceu. Nunca comparável a esses momentos históricos de "Staline".."Mao"...a esquerda sobrevive por alguma razao, pense lá, carissimo anti-reds.
Sei que ser Nacionalista nao implica ser Nacional-Socialista, mas mesmo assim vejo perigoso esse ideal. Quem ama a sua Nação esquece-se de si. O que importa é o homem, não me importa o futuro de Portugal. Quero justiça para mim e para os meus, o resto pouco interessa...

Mestre de Aviz disse...

Isso sim é um pensamento redutor e falacioso. Ao querer o seu próprio bem, o Homem tem de querer o bem da sociedade em que se insere. Caso isso não se verifique, está cada um a remar para seu lado, não chegando a lado nenhum. É preciso um rumo e esse rumo só pode ser a Pátria.

Cumprimentos.