terça-feira, outubro 31


Efeito de enquadramento, por Tiago Mendonça


Acerca da temática, cada vez mais na ordem do dia, que é a interrupção voluntária da gravidez, gostaria de partilhar convosco uma análise que não deixa de ser interessante, postada num blog amigo:




Efeito de Enquadramento- Aborto


Sendo a questão da despenalização ou penalização da prática de Aborto, uma das questões mais fracturantes da sociedade Portuguesa, é complicadíssimo analisar todos os factores relacionados com esta questão, recheada de inerências antagónicas. Por isso, decidi apenas expor um dos caminhos que poderão ser seguidos para se pensar na melhor solução. O caminho da conjuntura.


Vamos imaginar que colocávamos à mesma pessoa 5 perguntas estruturais sobre o aborto ( conferindo a 5ª questão um efeito de enquadramento provocado pelas 4 perguntas anteriores). Assim sendo, admitamos um primeiro questionário:


Concorda com o Direito à vida ?Pensa que alguém tem o direito de matar uma criança inocente?Concordaria se a sua mãe , tivesse abordado e por isso o seu irmão não fosse vivo?Considera a morte algo justificável?Concorda com a prática de Aborto?


Neste caso penso que 99 por cento das pessoas responderiam que Não concordavam com a prática de Aborto, pelo efeito de enquadramento criado pelas quatro questões que antecediam a pergunta sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Vejamos agora um segundo questionário:


Concorda com a liberdade de Escolha?Não deverá a Mãe mandar no seu próprio corpo ?Deverá nascer um filho indesejado?As crianças que nascem na miséria e são abandonadas porque não ouve permissão para a mãe abortar, não estariam melhor não tendo vindo a este mundo?Concorda, que a mulher deve poder optar por interromper a gravidez ou não?


Bom, neste caso penso que 99 por cento das pessoas responderiam que o aborto deveria ser despenalizado, também fruto de um efeito de enquadramento.


Poderíamos considerar que a argumentação do Não é mais forte, que o direito a vida deve prevalecer, mas será que os argumentos do Sim não serão também plausíveis? Neste sentido criou-se uma lei de consenso que vigora em Portugal, onde o aborto é possível em casos de má formação do feto, perigo de vida para a mãe ou em casos de violação. Mas os defensores do Sim continuam a achar que esta lei não é suficiente, querendo uma despenalização total. Os defensores do não consideram que estes casos cobrem perfeitamente a necessidade de abortar e que tudo o resto derivará da irresponsabilidade das pessoas.


O que é certo, é que existem questões defendidas pelo Sim que são aceitáveis e pelo Não também. As questões estruturais do aborto são complexas e poderão pender para qualquer um dos lados. Nesse sentido, quanto a mim, poderia se colocar uma questão conjuntural : Estará a sociedade Portuguesa, em particular, preparada para o aborto ser totalmente legal ?


Neste caso a discussão seria acerca da sociedade e dos comportamentos responsáveis ou irresponsáveis da sociedade portuguesa. Nesse sentido, deveriam ser analisados alguns dados que temos ao dispor, como o número de pilúlas do dia seguinte que os jovens adquirem ( muito acima da média suportada pelo organismo da mulher ), o número de relações desprotegidas ou então elaborado um estudo onde se comparasse o número de relações sexuais desprotegidas com o aparecimento da pilula do dia seguinte.


Desta forma, "esquecendo-se", a questão estrutural desta problemática, iriamos para um problema, que do meu ponto de vista é bem mais fácil de perceber e solucionar:Se a sociedade portuguesa tem ou não condições para legalizar o aborto.

9 comentários:

Ze do Telhado disse...

Visão hipócrita e tacanha a desse tal Tiago Mendonça:

"Concorda com a liberdade de Escolha?Não deverá a Mãe mandar no seu próprio corpo ?Deverá nascer um filho indesejado?As crianças que nascem na miséria e são abandonadas porque não ouve permissão para a mãe abortar, não estariam melhor não tendo vindo a este mundo?Concorda, que a mulher deve poder optar por interromper a gravidez ou não?"

Em primeiro lugar, a liberdade de escolha cessa quanodo atinge a liberdade de outro, logo essa questão é absolutamente errada para a discussão desta problemática.
Segundo, sim, a mãe tem liberdade de mandar no seu próprio corpo, o problema é que neste caso isso não se aplica. Quando a mmulher tem um filho, já não é só o seu corpo que está em causa, é outra vida.
Terceiro, um filho indesejado não é nem pode vir a ser justificação para a sua sentença de morte. Se é indesejado então não terá problemas em dá-lo para a adopção. As enormes listas de espera que existem para a adopção de bébés por parte de casais que, para sua maior infelicidade, não conseguem ter filhos, são uma aberração num estado que se pretende social.
Quarto, as crianças que nascem na miséria têm apoios sociais e se são poucos então vamos aumentar esses apoios. Não vamos optar pela solução mais fácil e é óbvio que não somos nós que decidimos de forma egoísta e presunçosa se um bébé deve ou não vir ao Mundo. Se foi gerado tem tanto direito como eu.
Por último, em resposta à quinta pergunta, devo dizer que a forma leviana como fala da morte é repugnante. Não, óbvio que a mulher não pode interromper a sua gravidez. Não se trata de mera interrupção, trata-se de uma simples e directa pena de morte, ordenada sem dó nem piedade. Há que "chamar os bois pelos nomes". Aborto é permissão para a Morte de inocentes, não é uma mera interrupçãozita.

Tiago Mendonça disse...

Em primeiro lugar, mostrar o elogio por este blogue ter publicitado um post que coloquei online.

Quanto ao comentário do Zé do Telhado, bom ou eu expressei-me mal ou terá havido uma interpretação completamente distorcida do que escrevi no meu blogue. O que eu fiz foi um efeito de enquadramento ( um conceito leccionado em economia política ) e onde provei que tendo o não excelentes argumentos, também o sim, se recorrendo a um efeito de enquadramento ( que obviamente não pode ser utilizado na prática ) poderia levar a uma resposta positiva à pergunta que se prepara para ser referendado. O que faço nesse post é apontar um outro caminho de análise, proponho reflectirmos unicamente se a sociedade portuguesa tem ou não condições para acolher uma lei deste género.

Contudo, em outros post's e comentários tenho vindo a defender que em minha opinião a sociedade portuguesa não tem neste momento condições para acolher uma lei como esta.

Fica a nota.

Mestre de Aviz disse...

Quero agradecer-lhe o comentário e deixar duas ou três notas.
O que está em causa na nossa luta não é o facto de a sociedade portuguesa ter condções ou não para acolher esta lei, nõs simplesmente repugnamos tais intenções! Acho que nenhuma sociedade tem condições para embarcar numa política de morte sem defesa. Isto é pior que a inquisão!

Obrigado e cumprimentos

Padeira de Aljubarrota disse...

Penso que a questão que Tiago Mendonça quer levantar no seu texto, principalmente para aqueles que são a favor da interrupção voluntária da gravidez, é a existência, ou não, de condições para a prática desta intervenção médica no nosso país e não se ela é correcta, legítima, justa, humana ou qualquer outra coisa. É para aqueles que são a favor do "sim" que se levanta esta questão... Para que possamos (ou possam) pôr essa hipótese teriamos que viver numa sociedade, perfeitamente utópica, em que os níveis de responsabilidade seriam tão altos que não se poria a hipótese de desleixo e seria uma ultima hipótese apenas utilizada em casos extremos que, penso, todos nós podemos conceber.

De qualquer forma citei este texto por pensar que poderia lançar a discussão e trazer alguma dinâmica a um assunto que tem sido aqui abordado de forma totalmente consentânea e, na minha opinião, um pouco desinteressante. Peço desculpa pelo aspecto do post, mas tive algumas dificuldades na sua edição.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Bom caríssimo padeira de aljubarrota, permita-me que discorde. Creio que o assunto tem sido abordado aqui neste blog com grande responsabilidade, objectividade e coerência, tal como obriga este assunto. Acho até que a discussão tem sido bastante interessante. Não vejo qual o interesse do seu post, uma vez que a questão que levanta é só por si horrenda. Esperemos que Portugal não tenha condições (e falo de condições a nível ético-moral), porque quando as tiver será um estado assassino. Pior, será assassino do próprio povo! Achei ainda que se contradisse, porque numa sociedade utópica a hipótese da MORTE DO FETO nem se poria, porque a VIDA HUMANA estaria de tal forma protegida que seria uma perfeita aberração -como o é- a prática do Aborto.
Quanto ao facto dos "casos extremos que pensa todos nós podermos conceber", dir-lhe-ia que pensa mal. Inteligente, como julgo que é, deveria perceber - e creio que percebe - que os defensores do Não à MORTE não o fazem por moda, ou por hipocrisia. Fazem-no como pessoas coerentes, coincidindo plenamente, portanto, as suas palavras com as suas acções.
Como última observação, abusando talvez até da sua boa fé, gostaria apenas de fazer um pequeno reparo citando o companheiro Zé do Telhado, quando diz que: "Não se trata de mera interrupção, trata-se de uma simples e directa pena de morte, ordenada sem dó nem piedade. (...)Aborto é permissão para a Morte de inocentes, não é uma mera interrupçãozita. ". Pretendo com este citar dizer-lhe exactamente que não tenha complexos com a palavra ABORTO, não lhe chame algo deturpador, cinicamente correcto, falsamente caracterizável. Um aborto, um bébé morto. É tão simples quanto isto.

Sem mais, as minhas desculpas pela ferocidade do comentário, mas achei que seria oportuno fazê-lo.
Os meus sinceros cumprimentos e um bem haja.

Anónimo disse...

Subscrevo o Besta Mecanica.

De resto, os melhores cumprimentos

Anónimo disse...

O sr besta mecanica estava inspirado! Muito bem!

Bom blog senhores

Anónimo disse...

Tacanhos são voçês todos, que nem sequer ler português sabem. O texto do Tiago Mendonça está excelentemente construido, pois ao menos fornece outro plano de reflexão sobre esta questão, ao invés do cliché do "bebé morto", das mães "assassinas" e outros sensacionalismos afins, no melhor estilo Correio da Manhã. O sr. Ze do Telhado refere que a liberdade da escolha cessa quando atinge a liberdade de outro, pois quem é voçê para decidir sobre a MINHA LIBERDADE de escolha sobre trazer ou não uma criança ao Mundo? Não sei se sabe, mas ser responsável por uma criança é a maior tarefa que um ser humano pode fazer, e para que isso aconteça de uma forma saudável devia haver um cruzamento tal de condições (sociais, económicas, afectivas) que infelizmente NÃO EXISTEM PARA TODOS. Tenho filhos e sei do que falo. Para o sr. Ze do Telhado é muito fácil nascer indesejado, não há problema nenhum que a solução directa é o orfanato (é tão giro o orfanato!), onde vai ser seguramente felicissimo o resto da vida.... Se tiver sorte ainda sai pelos dez anos, depois de toda a sua estrutura emocional ser (des)construida, mas enfim são pormenores.
Nem digo para mudarem de opinião, mas ao menos deêm-se ao trabalho de analisar todos os lados da questão.

Ze do Telhado disse...

Tenha calminha, está demasiado excitado para abordar esta questão com a devida responsabilidade.
Não está em causa a construção do texto do Tiago Medonça, se soubesse ler português como pretende que eu saiba, então talvez percebesse a mensagem. O próprio Tiago admitiu que não se exprimiu da melhor forma. Não fale, portanto, do que não sabe.

Também não deve saber que existem listas enormes de espera para a adopção de crianças. Pais que não conseguem ter filhos, ou que simplesmente têm as tais condições que refere e pretendem aumentar o seu agregado. Há por isso mais do que uma alternativa à morte. E neste caso concreto, acho que não preciso explicar mais nada.

Ainda no seguimento do seu comentário fraquinho, fala com a presunção imediata de saber o futuro de uma criança que nasca num Orfanato. Pois deveria saber que há muito boa gente que graças à acção social de alguns orfanatos, consegue hoje ter uma vida tranquila. O que disse não é, como pode ver, tão linear assim. Agora, é óbvio que o Orfanato não é o melhor para a criança. Talvez se se preocupasse em defender a sua melhoria, isto é, defender o apoio à criança, à família, à mãe, em vez de optar pelo caminho mais fácil, mas mais aberrante, o Aborto.

Relativamente à questão da liberdade, o seu discurso apresenta algumas falhas. Tem liberdade de escolha sobre si,isso é indiscutivel. Todavia, sobre outra vida, não. Obviamente que isso já não é liberdade. Extravasa em larga escala os limites das liberdades e garantias, assegurados na nossa Constituição, distorcendo o conceito de Direitos Fundamentais, inerentes ao funcionamento de um Estado de Direito civilizado e respeitador da Vida. Esses tais Direitos Fundamentais, que servem para salvaguardar exactamente os abusos, ou atentados, contra a nossa liberdade e a dos outros. Esqueceu-se deste ponto, o principal.

Para terminar. deixe-me que lhe diga que a sua abordagem não foi feliz. Defender a Vida não é sensacionalista. Sensacionalista é reduzi-la a uma insignificancia que não tem, porque ela é a essencia de todas as coisas. O preconceito pela palavra ABORTO, MORTE DO FETO, etc, só revela o seu carácter. Ou não percebe o que diz, ou tem um profundo desrespeito pela Vida, mais grave, pela Vida dos outros.